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#tbt - Entrevista com João Américo para a revista Áudio Música e Tecnologia


João Américo e seu novo momento Passado, presente e futuro nas palavras de um dos mais importantes nomes brasileiros do mercado de sonorização.

Lazzaro Jesus - Áudio Múdica e Tecnologia

Publicado em 21/11/2015 - 00h00

Na história do áudio brasileiro, João Américo já escreveu seu nome. Mas contrariando a máxima de que todo baiano é lento, esta pessoa irriquieta e cheia de ideias resolveu abandonar o mercado de locação, juntar seus anos de conhecimento e criar a empresa Art Et Design, por meio da qual ele agora se dedica a projetar e a fabricar caixas de som profissionais.

"João Américo é um cara da época em que nem existia o conceito de sonorização como um sistema complexo, com mesas de som com funções especificas, PA e monitor." É assim que se define o personagem da entrevista que você está prestes a conferir. Quando ele ingressou no universo no qual baseou sua carreira, não havia grandes empresas de sonorização nem mesmo no Rio ou em São Paulo.

"A informação era escassa ou quase nenhuma, principalmente em português", mas ainda assim João Américo se descobriu apaixonado em fazer uma coisa que nem ele mesmo sabia explicar o que era. E também não imaginava onde iria chegar fazendo aquilo.

AM&T: Sua definição sobre quem é João Américo nos conduz a uma pergunta que todos, no momento, querem lhe fazer: o que o levou a vender a João Américo Sonorizações?

João Américo: Depois de quase 40 anos de trabalho no ramo de locação, comecei a me sentir cansado. Acho que cansado não é o termo correto. Mais correto é falar de um desânimo, uma desmotivação com o mercado de sonorização local, com preços praticados que lhe impedem de prestar bons serviços. Para um serviço de qualidade, você tem que manter, principalmente, uma boa equipe técnica e estar sempre comprando bons equipamentos. Só que, como o mercado aqui da Bahia está, você não consegue fechar esta conta. Eu vivia um conflito muito grande dentro mim: tentava manter a qualidade dos serviços, preservar uma boa equipe técnica e ter bons equipamentos, só que, para isto, eu estava pagando para trabalhar. Resumo da ópera: se é pra fazer mal feito, melhor não fazer. Concorda? Daí a minha decisão de vender a empresa. Não posso fingir que presto um bom serviço porque o mercado finge que paga por ele.

Mesmo que ainda leve seu nome, o João Américo ainda tem algo que o ligue à João Américo Sonorizações? Qual é, atualmente, seu vínculo com a empresa?

Realmente, a João Américo Sonorizações - JAS permanece com o mesmo nome, porém, sou sócio minoritário e não faço mais parte da gestão da empresa. O Valmir Elpidio, quem comprou a JAS, é a pessoa que toca o negócio no momento.

Como surgiu a Audio ET Design?

Eu, como uma pessoa tímida e um tanto calado, vivo muito intensamente no mundo dos meus pensamentos. Fervilham muitas ideias na minha cabeça e desde os primórdios da JAS optamos por projetar e fabricar os sistemas usados pela empresa. Era uma produção limitada, pois só fazíamos para uso interno. Até aí, nada que me convencesse a montar uma fabrica de caixas, mesmo com a venda da empresa. O que contribuiu definitivamente para a ideia de fabricar caixas foi um convite que recebi para visitar a Clair Brothers, nos Estados Unidos, e lá conheci o setor de montagem das caixas deles. Ver como tudo funcionava, com um número reduzido de pessoas produzindo uma quantidade enorme de caixas, foi tão marcante que fiquei ainda uns 12 dias em Nova York após a visita à Clair e, ainda lá, comecei a rabiscar num papel os desenhos dos layouts de possíveis caixas de som.

Tudo isso veio se juntar a um antigo sonho de produzir aqui no Brasil caixas de som que fossem "conceito", e que nelas fossem colocados os melhores componentes do mercado internacional e que, ao mesmo tempo, esgotasse todo o nosso conhecimento, acumulado com o tempo, no desenvolvimento de um projeto. Eu sempre falo que não sou um grande teórico ou um grande conhecedor do áudio. Me considero um mestre de obras. Estou muito longe de ter o conhecimento de pessoas como o Carlos Correia, Homero Sette, Walter Ulmann e outros mais. Mas, ao mesmo tempo, foram quase 40 anos trabalhando com áudio, e isso me deu a experiência para saber por qual caminho tenho que seguir para atingir os meus objetivos.





Depois da decisão e dos rabiscos no papel, foi uma longa história, com muitas dificuldades e muitas noites mal dormidas. Em primeiro lugar, havia um grande obstáculo pela frente, que era a peça fundamental de qualquer line array: era preciso fazer um guia de ondas. Esta era a condição primordial para que o meu projeto fosse adiante. Se eu não tivesse sucesso, iria desistir de uma vez por todas. Não queria simplesmente copiar um guia de ondas do mercado, pois, com isso, não me daria o prazer de criar algo novo. Se eu fosse contar aqui tudo que aconteceu nesta fase do projeto, desde, por exemplo, acordar às três da manhã e ficar deitado na cama pensando nas possibilidades, até a busca por uma empresa - neste caso, a Ímago - e um cara nota dez chamado Vinícius Dias, de dentro da Escola Politécnica da UFBA, daria para escrever um livro volumoso.

Somente o Vinícius, através de um programa chamado Solid Works, conseguiu desenhar minhas ideias do projeto do guia de ondas. Depois disso, levei o arquivo num centro de usinagem e foi feito um modelo para testes. Comparamos com alguns guias de onda de bons fabricantes nacionais e internacionais, e aí foi uma alegria tão grande ver o resultado das medidas, que parecia ter nascido um filho. Só então veio a certeza de que poderia continuar o meu projeto. Só que, por ironia do destino, apesar do resultado do guia ser muito bom, melhor até do que todos aos quais comparamos, resolvemos desistir dele, pois, na sequência, desenvolvemos um outro muito mais simples e mais barato para fabricar, e que aos nossos ouvido teve uma sonoridade mais agradável.

Qual o conceito por trás da marca Audio Et Design ?

O conceito é a união entre simplicidade e qualidade. Nossa busca é por conseguir resolver todos dos problemas das caixas na sua construção usando o mínimo de processamento eletrônico. Eu sempre falo que o processamento eletrônico é um remédio. Acho que todos concordam que o melhor é não adoecer. Gastamos quase três anos para a nossa caixa de line array AED 206 ficar pronta. Ela é uma caixa que, apesar de pequena (60 centímetros de largura), tem três vias. Até chegarmos ao guia de ondas definitivo foi mais de um ano. Na seção de médio graves muitos meses foram empregados, e nas baixas frequências um outro bom tempo. Tudo isso para entregar uma caixa sem problemas acústicos desde a sua construção. Se, por exemplo, no meio do médio grave você tem um buraco e você usa o processamento eletrônico para corrigir, o que está sendo feito é empurrar potência em cima do alto-falante para corrigir uma deficiência da construção da caixa ou do alto-falante. Eu prefiro corrigir na construção da caixa e guardar essa potência para ser transformada em headroom.

O nome da empresa revela nossos anseios de levar o design ao áudio através das caixas de som. Por isso o nosso cuidado com os detalhes, como cantos arredondados e suaves, ferragens integradas e embutidas. Somos muito criteriosos na escolha dos transdutores. A nossa linha 206 levou o tempo necessário para ficar pronta para o mercado. Muito desse tempo por conta de detalhes mínimos. Minha última luta para fechar o ciclo e dar o projeto como finalizado é finalmente definir o tom do azul que caracteriza as caixas. E, por conta do design, ficamos desenvolvendo detalhes que são geralmente aparentes nas outras marcas, mas para quem for mais detalhista vai perceber que não existem ferragens aparentes nas caixas AED. Esse cuidado foi tomado porque as ferragens e pinos de angulação e içamento acabam sendo danificados e, ao mesmo tempo, servem de instrumentos para riscar outras caixas e os cases dentro do caminhão. Nas caixas EAD elas são embutidas.


Quem são as pessoas que fazem parte da AED?

Na volta ao Brasil, depois de conhecer a fábrica da Clair Bros, em 2011, ainda na antiga JAS, eu e o José Carlos começamos a discutir e a fazer protótipos, testes. Depois da minha saída da JAS veio o Bira, que, junto com o José Carlos, são as pessoas fundamentais na nova empresa. Além de fazerem os testes de laboratório, eles são os ouvidos da AED. Eles criaram uma capacidade de escutar coisas que eu não escuto. Eles ficam semanas escutando as caixas e comparando e provocando modificações, e aí vêm mais audições e um processo infinito. Na reta final, contamos com o auxílio luxoso do Carlos Correia, que, com a sua grande experiência, foi de vital importância para finalizar o projeto do sistema AED 206.

A história com o Carlos Correia foi interessante. Eu queria contar com ele na Audio Et Design desde o inicio, só que na época ele trabalhava numa multinacional, e quem era eu para tirá-lo de lá? Não sou nem uma "multimunicipal". Eu não tinha cacife para trazê-lo naquele momento, mas calhou que ele saiu da empresa e passou a atuar como consultor free lancer, o que permitiu trazê-lo para fazer trabalhos com a Audio Et Design. Acabou dando muito certo. Sou realmente um privilegiado e estou muito feliz com as pessoas e profissionais ao meu redor neste projeto.

Qual a média de tempo para a entrega de um sistema?

O kit básico do 206 (16 uppers e seus respectivos subs) fica pronto em 40 dias úteis, mas alguns fatores podem fazer esse prazo crescer, pois os transdutores são importados e de fornecedores diferentes, e a entrega de insumos para a integração da caixa depende da agilidade deles para a entrega aqui no Brasil. Muitos me perguntam por que não pegar os componentes num só distribuidor? A resposta é: pelo simples fato de querer usar o melhor componente do mercado para cada via da caixa e nem sempre o mesmo fornecedor vai ter o melhor componente para poder atender ao nosso projeto.

E como um dos princípios da Audio Et Design é a excelência de produto e sonoridade, nós utilizamos o melhor componente existente no mercado para integrarmos em nossos projetos. A facilidade de centralizar nossos transdutores num só fornecedor nos limita no que mais precisamos que é o alto desempenho com qualidade sonora. Então, optamos por múltiplos fornecedores. E não vou negar: estou muito orgulhoso do resultado final das nossas caixas.



Como e por que nasceu a parceria com a Quanta ?

A parceria se deu por dois motivos: primeiro, precisávamos de um parceiro comercial caso fôssemos sair do plano artesanal para o industrial. Também necessitávamos de um aporte monetário, e como as partes de projetos e fabril já estavam resolvidas, precisávamos de um parceiro para a distribuição comercial. Com a parceria formada, estamos garantindo a qualidade de pós-venda dos nossos produtos. Eu já estive do outro lado do mercado, como consumidor de produtos de áudio, e conheço bem a Quanta como distribuidora, e o seu pós-venda, que acho muito bom, foi determinante nesta parceria.

Sofri muito com diversas empresas que só querem vender e depois da venda esquecem os clientes. Então achei que a Quanta seria a parceira certa. A atual crise tem impactado o processo de implementação da produção, mas já estamos aptos a atender pedidos neste momento. Estamos agora focados em fazer demos, para que o cliente comprove a qualidade dos nossos produtos antes de adquirir um sistema.

Quais produtos compoem a linha AED?

O sistema AED 206 é composto da célula de alta que tem como componentes dois woofers de 6", um midrange de 6" e dois drivers com garganta de 1" e diafragma de 1.7". O sub que acompanha o sistema é o 115S, com um falante de 15". Indicamos este sub para ambientes fechados e que não requerem frequências muito baixas. Neste momento estamos desenvolvendo um outro sub para ser usado ao ar livre e quando se precisa de um som com resposta de frequências muito baixas.

Agora aproveito para fazer um aparte: sempre me perguntam por que componentes de pequenas dimensões. A opção por tais componentes é pelo fato de que quanto menor o componente, melhor a sua resposta para os transientes, o que torna o sistema mais musical. Para que o sistema tivesse punch, optamos pelo carregamento em corneta, que deu um ganho acústico de 9 dB nos woffers. No médio grave obtivemos um ganho acústico de 5 dB. Na faixa dos drives o guia de ondas deu um ganho de de 6 dB.

Um detalhe: o sistema funciona em três vias, coisa difícil de encontrar nos sistemas do mercado, principalmente quando se usa falantes pequenos. A prática comum é esticar ao máximo a faixa que um componente irá falar para que o sistema funcione em duas vias. Com três vias podemos escolher dentro da faixa de trabalho de cada falante qual a melhor parte dessa faixa iremos usar. A nossa caixa AED 206 tem somente 60 centímetros de largura e 30 quilos.

Mesmo indicando o sistema como indoor, não tenho dúvida da sua alta performance em outdoor. Um detalhe que gostaria de pontuar é que todos os lines da série AED e TecAudio possuem um conceito simétrico em que todos componentes partem do mesmo ponto. Explicando melhor, as caixas são axialmente simétricas. No centro frontal da caixa temos o guia de ondas, ao lado deste temos as saídas do mid ranges e nas extremidades temos as duas cornetas dos woofers. Nos testes auditivos a impressão é que ouvimos o som saindo de um único ponto. Com os lines AED e TecAudio não temos que separar as caixas do lado direito e esquerdo.


O terceiro membro da família é a AED 205, com dois woofers de 5" e um drive, que nasceu como um caixa coluna. Foi pensada para trabalhar na vertical, mas com a entrada do Carlos Correia e sua visão de design industrial, ele me perguntou: "por que não transformá-la também num line de pequeno formato?". Isso daria uma versatilidade maior ao produto, permitindo usá-lo como front fill, caixas under balcony, dentre outras aplicações.

Junto com a sugestão vieram os problemas de projeto. Como ela foi desenvolvida para trabalhar na vertical (como coluna), usá-la na horizontal não era simples, pois como coluna a cobertura sonora na horizontal era maior que a vertical. Ao usar esta coluna deitada (como line), as duas coberturas sonoras eram totalmente incompatíveis. A solução para isso era retirar a tela e depois retirar e girar o guia de ondas. Depois de alguns dias e noites mal dormidas, eu estava com o problema resolvido, sem precisar de qualquer tipo de ferramenta. A tela agora está presa com ímãs, bem como o guia de ondas. É retirar a tela, meter a mão no guia de ondas, puxar e girar e a caixa está preparada para funcionar como line array. O complemento deste sistema é o sub 12S. Esse sistema completo cabe na mala de um carro sedan ou num utilitário, com sobra, e faz tranquilamente bares, pequenos teatros, igrejas etc.

Para fechar, temos um monitor, o AED 12SM com woofer de 12" e um drive , que é um upgrade dos já conhecidos monitores da JAS. Mesmo sendo um produto que já fazíamos na empresa anterior, queríamos fazer uma atualização para melhorar ainda mais o que já era bom. Levamos um ano para achar os componentes certos para a sonoridade que estávamos procurando. Foi uma luta até acharmos um falante recém-lançado. Com esse modelo, conseguimos fechar num só fornecedor todos os componentes do nosso novo monitor.

Por que a opção de não utilizar amplificadores integrados nas suas caixas?

Pense comigo: temos que ter caixas leves, e colocando os amplificadores dentro das caixas temos logo, de cara, dois limitadores - peso e espaço. Você não consegue colocar um amplificador com a potência adequada para os alto-falantes, e, com isso, você perde muito headroom. Com os amplificadores externos, posso aplicar a potência correta nos transdutores, além de ter um headroom para reproduzir fielmente os transientes, que são musicalmente muito importantes.

Ainda como gestor da JAS, eu queria muito comprar um sistema amplificado, devido à sua economia de espaço, tempo de montagem etc. Porém, ao comparar as especificações técnicas do mesmo sistema com e sem amplificador integrado, notei a gritante perda de performance do sistema amplificado. Não era pouca coisa. Quase 6 dB. Isso me desestimulou a adquirir o sistema. Trabalhamos com música, e música tem muito de transientes, e se um sistema não está preparado para traduzir fielmente o seu programa, ele não serve para música.

Como e por que nasceu a linha TecAudio?

Podemos dizer que a TecAudio é a linha popular da Audio Et Design. As caixas seguem exatamente os mesmos conceitos técnicos da série AED, que é a linha conceito da marca. O desenvolvimento dos componentes dessa linha foi mais fácil e rápido, pois já tínhamos resolvido todos os problemas de projetos. Só foi preciso encontrar os componentes certos e fazer os ajustes nos gabinetes, pois seguimos o mesmo conceito de qualidade e sonoridade usando componentes nacionais. O resultado foi um sistema acessível para qualquer locador e com um tempo de entrega mais curto, pois nossos fornecedores quase sempre têm os componentes em estoque. A linha TecAudio já tem dois produtos: um line modelo 1626 e um sub modelo 1500S.

Quais os planos futuros da AED?

Nosso primeiro plano é definir finalmente o tom de azul da linha AED, pois não estou contente com ele. Ainda acho o azul muito berrante. Estamos testando graduações de tonalidades. Estamos já em 25% de corante preto e ainda tenho dúvidas [risos].

Fora este "grande dilema", existem mil ideias fervilhando na minha mente, mas algumas já estão indo para o desenvolvimento. Uma é a linha Hi Power Outdoor, da marca AED. Mas aviso logo: os woofers serão de 10" e os mid ranges também, seguindo o conceito já usado nas anteriores. Minha maior dúvida até o momento é quanto ao subwoofer do sistema - se ele vai ser de 18" ou se conseguiremos o resultado pretendido com falantes de 15". Particularmente, detesto aqueles subwoofers de uma nota só, que só deslocam ar sem serem musicais, pois mesmo os graves precisam ser musicais. Temos tido muitas reuniões para chegarmos a um denominador comum, e espero trazer para o mercado algo tão espetacular quando o primeiro sistema.

O outro sistema, que já está indo para a fase de protótipo, é um line muito compacto, com três vias e todos os componentes de 5" e dois drivers.. Esperem, pois em em breve apresentaremos muitas novidades.

Lazzaro Jesus é brasileiro, baiano, técnico de monitor com muito orgulho e editor do blog Gigplace (www.gigplace.com.br).


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